As pessoas não são encorajadas a pensar de
forma diferente. Quando se arriscam a sonhar é dentro dos limites das tradições.
Isso inibe a criatividade e aprisiona os sonhos. Visionários e sonhadores
transcendem esses limites das crenças. Não aceitando o impossível vão em frente
e realizam. Foi o que fez comandante Rolim Adolfo Amaro. Um menino de Pereira
Barreto, no oeste paulista, que sonhava ser piloto, não só transformou a TAM na
mais respeitada empresa aérea do país como revolucionou a aviação comercial
brasileira. Criou serviços exclusivos e inovadores. Seu lema era tratar os
passageiros como celebridades com direito a tapete vermelho a cada viagem. A
ponte aérea entre Rio e São Paulo nunca mais foi à mesma depois do comandante
tomar tal iniciativa.
No entanto, para chegar ao sucesso, Rolim
teve que superar não apenas a crença do “sempre foi assim”, mas
também recursos escassos, desestímulos, negativas. De origem humilde foi
assistente de mecânico, aprendiz de escrevente de escritório e entregador de
sanduíches. Com um salário minguado comprou uma lambreta, a qual mais tarde
serviu para pagar o curso de piloto, conforme Rolim relatou na entrevista à
revista Isto É. Quando estava prestes a obter o segundo brevê,
de piloto privado, o aeroclube instituiu uma taxa que ele não podia pagar.
Viajou 200 quilômetros de trem e de carona para pedir auxílio a um tio
fazendeiro, que lhe fechou as portas. “O sonho de sua mãe era vê-lo balconista
das Casas Pernambucanas, mas desistiu disso. Preferiu ir atrás da aviação,
coisa de vagabundo e louco, vá trabalhar.” Tomou dinheiro emprestado de um
amigo e conseguiu o brevê. Aos 21 anos, Rolim Amaro ingressou na TAM. Em 1966,
recebeu uma proposta tentadora: ser piloto particular na região do Araguaia.
Financiou seu próprio avião Cessna 170 para três passageiros, com o qual
transportava animais (já que as estradas eram raras), além de roupas e rádios
de pilha que vendia para engordar o salário. Dois anos depois tinha dez
aeronaves. Desistiu do negócio quando teve a sétima crise de malária.
Em 1972, Rolim voltou para a TAM como
sócio a convite do passageiro e amigo Orlando Ometto. Adquiriu metade das ações
e o restante ele comprou quatro anos depois. Então realizou seu sonho de
pioneirismo instalando-se nos aeroportos pequenos e antigos das grandes
cidades, atento à clientela que precisava poupar tempo. Modernizou a frota.
Inventou a “maior poltrona do meio” fazendo o odiado lugar virar objeto de
desejo de passageiros. Superou turbulências na trajetória do sucesso. A pior
ocorreu em 1996: a queda do Fokker 100, poucos minutos após a decolagem de São
Paulo para o Rio, que matou 99 pessoas. Rolim e outros realizadores de sonhos
deixam à lição de que os obstáculos nem sempre são tão grandes e
intransponíveis quanto se imagina. Pelo contrário, tornam-se pequenos diante da
obstinação de quem acredita nos sonhos.
“A vontade de voar”, palavras que estimulam a imagem e o hábito
de sonhar.
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